Eu vou contar pra vocês como foi… Tudo começou em outubro de 2021, quando eu comecei a sentir muito sono, cansaço, fraqueza e febre direto. Eu fiz uns exames e deu Anemia. Fiz o tratamento, mas só piorava. Aí eu fui em outro hospital e contei tudo pra eles. Eles pediram um teste rápido e deu positivo. Mas aí eu fui repetir e deu negativo. O médico pediu pra eu voltar em 15 dias e… bem, aconteceu a mesma coisa. Positivo e depois negativo de novo.
Eu decidi ir pra minha cidade fazer uns exames mais detalhados porque aqui é capital e eu trabalho em outro município, então é longe pra caramba. Nesse meio tempo, a febre tava vindo direto e eu comecei a sentir uma dormência no lado do meu corpo.
Quando eu cheguei no hospital da minha cidade, a febre tava muito alta e a dormência também. Eu desmaiei na porta do hospital e entrei em coma. Eles fizeram uns exames e descobriram que tinha algo no meu cérebro e que eu precisava fazer uma cirurgia. Mas aí eles viram que não era AVC e que não dava pra operar porque tava espalhado pelo cérebro todo.
Meus pais foram chamados e os médicos disseram que… que eu não tinha mais jeito. Mas, no dia 2 de novembro, Dia de Finados, eu acordei. Eu tentei me sentar e não consegui. Aí o médico começou a me explicar que eu tava com Neurotoxoplasmose e AIDS.
Eu fiquei sabendo que não ia ser fácil, mas o que mais me preocupava era não poder me mexer. Eu usava fraldas e sonda, e meus pais tinham que fazer tudo pra mim. Foi um momento muito difícil, eu me sentia tão impotente.
Chegou uma época que eu fiquei muito triste por tudo que tava passando. Não poder fazer nada sozinho, depender dos outros… é muito difícil. Naquele momento, eu só queria conversar com alguém, qualquer pessoa, não sobre o HIV, mas sobre qualquer coisa. Queria sentir que eu era igual antes.
Quando entrei na comunidade Posithividades, me senti acolhido. Todos me davam atenção, uns me chamavam pra saber como eu estava, outros queriam desabafar. Eu me senti muito útil e não tinha mais aquela sensação de estar sem ninguém pra conversar. A respeito da minha condição, só meus pais sabiam, e até hoje, só explico o que eles precisam saber pra não ficar preocupados.
Poder conversar e ajudar alguém conversando, dando conselhos, até mesmo tirando dúvidas, é tão gratificante. Foi a melhor coisa que esse vírus me trouxe: conhecer pessoas do Brasil inteiro e poder dividir minha história. É muito libertador, ainda mais eu que gosto de conversar.
Durante uma época eu estava muito deprimido, e fui chamado pra ser um dos ADM da comunidade. No início, eu me senti observado, sabia que as pessoas estavam me olhando e sabiam o que eu estava passando. Mas, como ADM, eu comecei a receber mensagens de pessoas que estavam deprimidas, desesperadas, com dúvidas… E eu vi nisso uma oportunidade de ajudar.
Eu comecei a refletir sobre como eu poderia ser uma pessoa que conversasse com alguém que precisava de uma palavra, de uma atenção. E isso me fez sentir útil de novo.
E esse ano, um amigo me chamou pra ser secretário dele em outro município. Eu pensei bastante e vi que era um desafio, mas também uma oportunidade de voltar a trabalhar e ser feliz de novo. E a minha felicidade maior foi perceber que tem gente que não olha pra minhas limitações, que quer meu bem-estar e confia em mim.
Agora, como secretário, eu sinto que estou fazendo algo importante. Estou trabalhando, estou ajudando e estou feliz. E o mais importante, estou vivendo. Estou vivendo a vida ao máximo, aproveitando cada momento e não deixando que as limitações me definam. Eu sou mais do que minha infecção, eu sou uma pessoa com sonhos, desejos e objetivos. E eu estou determinado a alcançar tudo o que eu quero.
Com palavras, é difícil colocar como me sinto, mas somente eu sei o quanto é gratificante. Eu estou vivo, eu estou trabalhando, eu estou feliz. E é isso que importa.