O diagnóstico de HIV ainda carrega um peso emocional profundo, mesmo em um cenário de avanços médicos e de políticas públicas.
No Brasil, segundo o Boletim Epidemiológico HIV/Aids 2024, a mortalidade por aids atingiu o menor índice da série histórica,
reflexo da ampliação do acesso ao tratamento antirretroviral (TARV). No entanto, a batalha contra o estigma e os impactos na saúde mental continua sendo um desafio central.

Antes do diagnóstico, o HIV costuma ser visto como “o problema do outro”, associado a estigmas e preconceitos. Esse imaginário social intensifica o impacto psicológico quando alguém recebe o resultado positivo.
De acordo com pesquisas do Hospital das Clínicas da USP, mais de 30% dos pacientes recém-diagnosticados apresentaram transtorno de ansiedade generalizada.
Especialistas em psicanálise apontam que esse momento representa uma ruptura subjetiva, capaz de desencadear medos profundos, vergonha e sentimentos de culpa.

O estigma externo frequentemente se transforma em preconceito internalizado. O Stigma Index Brasil 2023 revelou que 26% das pessoas vivendo com HIV sofreram discriminação em serviços de saúde e 33% evitam contar o diagnóstico à família por medo de rejeição.
Esse silêncio imposto fragiliza vínculos e pode agravar quadros de depressão e ansiedade. Globalmente, o relatório UNAIDS 2024 indica que 39,9 milhões de pessoas vivem com HIV, sendo cerca de 1 milhão no Brasil.

A família pode atuar como um fator de apoio ou de adoecimento. Estudos em Porto Alegre mostraram que a falta de suporte familiar dobra o risco de abandono do tratamento.
Enquanto alguns relatam acolhimento imediato após a revelação, outros enfrentam rejeição e distanciamento de parentes próximos.

A prevalência de depressão entre pessoas vivendo com HIV pode chegar a 50%, e a ansiedade é até 10 vezes mais frequente do que na população em geral.
No Brasil, um estudo identificou risco de suicídio em 39,3% dos pacientes. Globalmente, pessoas vivendo com HIV têm até sete vezes mais chances de apresentar ideação suicida, de acordo com pesquisas recentes.

Iniciativas comunitárias, como grupos de acolhimento e projetos sociais, têm se mostrado fundamentais para enfrentar esse cenário.
Experiências como a Comunidade Posithividades e projetos de apoio coletivo reforçam a importância do diálogo e da solidariedade.
Para especialistas, ressignificar a experiência de viver com HIV é essencial: transformar o medo em autocuidado, a dor em narrativa e o silêncio em força coletiva.

Embora 72% das pessoas vivendo com HIV no mundo estejam em tratamento e com supressão viral, a América Latina ainda registrou aumento de 9% em novas infecções desde 2010.
O estigma, a desinformação e as barreiras de acesso a serviços de saúde continuam sendo entraves para alcançar as metas da ONU para 2030.

Referências

Ministério da Saúde. Boletim Epidemiológico HIV/Aids 2024. Brasília.

UNAIDS. Global AIDS Update 2024. Geneva.

Stigma Index Brasil (2023).

Borges, L. S. et al. (2020). Saúde mental e risco de suicídio em pessoas vivendo com HIV no RS. Rev. Saúde Coletiva.

van der Kolk, B. (2014). The Body Keeps the Score. New York: Viking.

Sherr, L., Clucas, C., Harding, R., Sibley, E., Catalan, J. (2011). HIV and depression — a systematic review of interventions. Psychol Health Med.

Carrico, A. W. et al. (2014). Correlates of suicidal ideation among HIV-positive persons. AIDS, 21(9), 1199–1203.

Freud, S. (1920). Além do Princípio do Prazer. Rio de Janeiro: Imago.

Lacan, J. (1964). O Seminário, Livro 11: Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar.

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