O tratamento das pessoas que vivem com o HIV é uma das formas de prevenção da transmissão da infecção. Pessoas que vivem com o HIV e têm carga viral indetectável (tão baixa que não aparece nos exames) não transmitem o vírus sexualmente. Esse fato, além de ser importantíssimo na redução da transmissão do vírus, também é muito significativo e empoderador para as pessoas que vivem com o vírus e fazem o tratamento corretamente.

Mas como sabemos disso com segurança?

Foram realizados três grandes estudos que acompanharam diversos casais sorodiferentes para o HIV (casais em que uma pessoa vive com o vírus e a outra não) e que relatavam ter relações sexuais regulares e desprotegidas. Esses estudos se chamam PARTNER 1, PARTNER 2 e Opposites Atract e foram publicados em renomadas revistas científicas.

A conclusão desses estudos foi a seguinte: Não houve nenhuma transmissão do vírus do parceiro positivo para o parceiro negativo quando a pessoa que vivia com HIV estava com a carga viral indetectável.

Abaixo farei um breve resumo dos dados encontrados em cada uma das pesquisas.

Estudo PARTNER 1

O estudo foi realizado em 75 diferentes centros localizados em 14 países europeus e recrutou casais sorodiferentes entre setembro de 2010 e maio de 2014.

Ao todo o estudo acompanhou 888 casais sorodiferentes. Desses, 548 eram casais heterossexuais e 340 eram casais homoafetivos masculinos.

Sempre que ocorria uma nova infecção pelo HIV era feita uma análise filogenética dos vírus com a intenção de descobrir se a nova infecção foi causada pelo mesmo vírus do parceiro. Ocorreram onze novas infecções pelo HIV mas nenhuma era filogeneticamente relacionada ao vírus do parceiro positivo (ou seja, essas pessoas se infectaram a partir de outras pessoas e não de seus parceiros).

Estudo PARTNER 2

Essa extensão do estudo PARTNER foi desenhada para melhor avaliar casais sorodiferentes de homens que fazem sexo com homens. O estudo foi realizado em 75 diferentes centros localizados em 14 países europeus e recrutou casais homoafetivos masculinos sorodiferentes para o HIV entre setembro de 2010 e abril de 2018.

Ao todo o estudo acompanhou 782 casais sorodiferentes. 37% dos parceiros negativos reportaram relações anais sem preservativo com outras pessoas além de seus parceiros.

Ocorreram quinze novas infecções pelo HIV mas nenhuma era filogeneticamente relacionada ao vírus do parceiro positivo (ou seja, essas pessoas se infectaram a partir de outras pessoas e não de seus parceiros).

Estudo Opposites Atract

O estudo observou casais homoafetivos masculinos sorodiferentes para o HIV. Esses casais foram recrutados em 13 clínicas australianas, uma clínica brasileira e uma clínica tailandesa. Os casais foram recrutados entre dezembro de 2012 e março de 2016.

Ao todo o estudo acompanhou 343 casais sorodiferentes. Ocorreram três novas infecções pelo HIV mas nenhuma era filogeneticamente relacionada ao vírus do parceiro positivo (ou seja, essas pessoas se infectaram a partir de outras pessoas e não de seus parceiros).

Os resultados combinados desses três estudos nos permitem afirmar com segurança que quem está indetectável não transmite o HIV por relações sexuais!

Uma última informação muito importante:

Quais as condições para falarmos que a pessoa que vive com HIV não transmite o vírus por via sexual?

· Deve estar indetectável há pelo menos 6 meses;

· Deve estar tomando regularmente as medicações antirretrovirais.

Texto elaborado por Dra Vanessa Strelow, médica infectologista.

CRM-PR 31201 RQE 2857