Assim como o HIV, o HTLV é um retrovírus transmitido através de relações sexuais desprotegidas, transfusões de sangue, pelo compartilhamento de seringas/agulhas e de mãe para filho (transmissão vertical), principalmente pelo aleitamento materno.
Os retrovírus estão entre os primeiros vírus conhecidos pela ciência, descobertos há mais de 80 anos, sendo relacionados ao desenvolvimento de neoplasias. Por volta da década de 70, a investigação de retrovírus humanos havia se tornado impopular devido às tentativas sem êxito no isolamento do microrganismo. Foram encontradas características biológicas dos retrovírus, como a enzima transcriptase reversa dando origem ao nome da família viral hoje conhecida como Retroviridae e a descoberta dos oncogenes celulares (sequências que geram produtos capazes de induzir o aparecimento de tumores) relacionados a eles. Mais tarde, foi identificado o primeiro retrovírus humano, o HTLV-1, seguido pelo HTLV-2 e por fim o HIV, agente causal da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (SIDA).
A associação entre os retrovírus e neoplasias em seres humanos ficou mais clara na década de 1980, nos Estados Unidos, quando foi isolado o primeiro retrovírus humano, o vírus linfotrópico de células T de humanos (Human T lymphotropic virus, HTLV), em uma paciente com linfoma cutâneo. Logo após, foi detectado em pacientes japoneses com quadros de leucemia/linfoma de células T de adultos. No ano de 1982, foi isolado um segundo HTLV, a partir de um paciente com tricoleucemia. Intimamente relacionados, porém distintos, passaram a ser denominados HTLV-1 e HTLV-2, sendo este último menos patogênico que o primeiro. Posteriormente, foi definido o tropismo (maior propensão de infecção) desses dois vírus para linfócitos T, CD4+ e CD8+, respectivamente.
A partir de estudos soroepidemiológicos, foi possível mostrar o envolvimento do HTLV-1 com doenças neurológicas degenerativas e hematológicas. Pode haver ainda alterações oculares, dermatológicas, urológicas, reumatológicas e psiquiátricas, causando quadros mais graves em seres humanos. São observados ainda outros sintomas neurológicos inespecíficos, como hiperreflexia, neuropatia periférica, disfunção erétil e bexiga hiperativa. Quanto ao HTLV-2, ainda não foi estabelecida sua ligação com alguma doença.
Em 1983, foi isolado um retrovírus do linfonodo de um paciente com linfadenopatia generalizada. No ano seguinte, foi publicado um trabalho diferenciando esse agente tanto do HTLV-1 como do HTLV-2, ao qual se denominou HTLV-3. A seguir, foi demonstrada a sua relação causal com a SIDA e apresentada a primeira geração de testes diagnósticos específicos para esse vírus, posteriormente denominado HIV (Human Imunodeficiency Virus).
Sabe-se que o HTLV-1 altera a resposta imune do hospedeiro a diversas infecções, pois infecta principalmente os linfócitos T-CD4+ helper, que têm um papel central na resposta imune adaptativa, seja aumentando a susceptibilidade às infecções ou alterando sua evolução. Várias síndromes e doenças têm sido associadas ao HTLV-1, destacando-se: leucemia/linfoma de células T do adulto, a paraparesia espástica tropical (PET)/mielopatia associada ao HTLV-1 (MAH), a uveíte, a ceratoconjuntivite seca, dermatite infecciosa, alterações psiquiátricas/ psicológicas e doenças reumatológicas, indicando o envolvimento multissistêmico dessa doença.
Por apresentarem mecanismos de transmissão comuns, o HIV e o HTLV-1 e 2 podem, simultaneamente, infectar o mesmo hospedeiro. Alguns estudos mostram que a coinfecção HIV/HTLV-1 cursa com progressão mais rápida para SIDA, maior risco de desenvolvimento de complicações neurológicas, incluindo PET/MAH, leucemia e linfomas, e menor sobrevida.
Estima-se que cerca de 20 milhões de pessoas no mundo estejam infectadas pelo HTLV-1. Dessas, aproximadamente 90% permanecerão assintomáticas ao longo de suas vidas. Esses indivíduos mantêm uma rede de transmissão silenciosa pela via sexual, sanguínea e vertical (da mãe para os filhos). O aleitamento materno é a principal via de infecção vertical, ocorrendo em 20% a 30% dos lactentes amamentados por mães infectadas e o risco aumenta quanto maior o tempo de amamentação. A transmissão intrauterina ou no período periparto ocorre em menos de 5% dos casos.A patogênese da infecção tem sido associada a uma elevada carga viral e a uma exagerada resposta imune tipo I, embora a história natural da doença ainda não tenha sido totalmente esclarecida.
A distribuição geográfica da infecção pelo HTLV-1 ocorre em bolsões, ou seja, áreas de grande prevalência do vírus contornadas por outras de prevalência bem mais baixa. O maior volume de dados sobre os aspectos epidemiológicos e clínicos associados ao HTLV-1 provém do Japão, África, ilhas caribenhas e América Central e do Sul, que são as áreas de maior prevalência do vírus no mundo.
Sabe-se que o HTLV-1 altera a resposta imune do hospedeiro a diversas infecções, pois infecta principalmente os linfócitos T-CD4+ helper, que têm um papel central na resposta imune adaptativa, seja aumentando a susceptibilidade à infecções ou alterando sua evolução. Várias síndromes e doenças têm sido associadas ao HTLV-1, com destaque para leucemia/linfoma de células T do adulto, a paraparesia espástica tropical/mielopatia associada ao HTLV-1, a uveíte, a ceratoconjuntivite seca, dermatite infecciosa, alterações psiquiátricas/ psicológicas e doenças reumatológicas, indicando o envolvimento multissistêmico dessa doença.
Cerca de 90% dos indivíduos infectados não apresentarão sintomas ao longo da vida. Apenas 5% das pessoas terão quadros graves de saúde relacionados com o vírus (quadros neurológicos degenerativos, leucemias e linfomas).
Alguns sintomas podem ser indicativos de doença neurológica:- Fraqueza, dormência e formigamento nos membros inferiores- Dores lombares- Dificuldade de caminhar/subir escadas- Alterações urinárias, desde incontinência até retenção.
Nos quadros de leucemia e linfomas, os sintomas mais comuns são:- Lesões na pele avermelhadas com pequenas elevações- Descamação- Aumento dos gânglios- Alterações visuais e ósseas
O diagnóstico é feito em duas etapas: primeiro é rastreado por testes de triagem (ELISA) e, posteriormente, confirmados pelo Western-Blot.
Não há cura para o HTLV, mas há tratamento para as doenças relacionadas ao retrovírus.
Também não há vacinas disponíveis até o momento
A triagem de doadores de sangue tornou-se obrigatória no Brasil desde 1993 e tem se mostrado uma estratégia eficiente na prevenção da transmissão do HTLV-1. Sendo uma região endêmica para HTLV-1/2, a triagem obrigatória em serviços de hemoterapia identifica portadores assintomáticos desses vírus e permite exclusões permanentes de tais doadores, constituindo importante medida de prevenção direta da disseminação da infecção.Prevenir a transmissão materno-infantil terá provavelmente o mais significante impacto na redução das doenças associadas ao HTLV-1. A triagem para HTLV-1 no pré-natal ainda não é obrigatória e deve ser implantada em áreas geográficas específicas, combinada com aconselhamento a mães soropositivas em relação à transmissão do vírus por meio da amamentação natural.
As recomendações para prevenção da transmissão sexual devem ser enfatizadas, incluindo o uso de preservativos nas relações sexuais. Finalmente, o aconselhamento aos usuários de drogas injetáveis (UDI) e a implantação de políticas de redução de danos podem ser medidas eficazes para reduzir a infecção pelo HTLV-1 nessa população vulnerável.
Dra. Letícia Fiore Baptista