Me chamo Maria e vivo com HIV desde 2016.
Minha descoberta foi inesperada. Eu era doadora de sangue e, numa dessas doações, recebi um telegrama da enfermeira do banco de sangue pedindo que eu comparecesse ao consultório. Pensei em muitas possibilidades, menos no HIV.

Na época, eu havia doado sangue para um parente internado, em dezembro de 2015. Em janeiro de 2016, fui chamada ao laboratório. Levei comigo minha filha de apenas 9 anos, sem imaginar que aquele dia mudaria minha vida para sempre. Quando recebi o diagnóstico, senti o chão desaparecer. O medo e o desespero me invadiram. Eu estava prestes a me formar como técnica em enfermagem, já trabalhava como socorrista (bombeira civil), e a primeira coisa que pensei foi: “Como vou exercer minha profissão agora?”

Veio a angústia de não ser contratada, de ver anos de estudo, esforço e investimento indo por água abaixo. Entrei em depressão, sofri com ansiedade e com o medo cruel da discriminação.

Por muito tempo, guardei essa dor só para mim. Eu era solteira, separada do pai dos meus filhos, e pensei nos relacionamentos que tive. Contei a dois homens com quem me relacionava sem preservativo: um, da área da saúde, fez os exames e testou negativo; o outro, simplesmente ignorou.

Cada entrevista de emprego virava um tormento. Sempre que pediam exame admissional, o pânico voltava. Dentro do hospital onde atuo hoje, ainda vejo preconceito entre colegas ao falar de pacientes com HIV. Por isso, nunca expus minha sorologia no ambiente de trabalho. Apenas meus dois filhos — hoje adultos — e alguns poucos amigos próximos sabem da minha condição.

Já são 9 anos vivendo com HIV. 9 anos indetectável. Mas, dentro de mim, ainda existe um tabu que me prende. Quando conheço alguém, o medo de revelar a sorologia me paralisa. Já me afastei de relacionamentos por receio do preconceito. Houve até quem se afastou de mim depois que fui sincera, mesmo antes de termos algo íntimo.

Ouço perguntas que doem: “Como uma mulher bonita, inteligente, independente, carismática ainda está solteira?” Muitos não imaginam a solidão, a angústia e a dor que carregamos em silêncio.

Durante a pandemia de COVID-19, trabalhei na linha de frente em um grande hospital de Porto Alegre. Entre todos os colegas, fui a única a não contrair o vírus. Mas o peso de conviver com o segredo, sem coragem de expor ao RH ou gestores, me consumia.

Escrevo agora em lágrimas, porque ainda sinto que minha vida mudou para sempre em janeiro de 2016.

Convite

Se você quiser enviar sua história, envie no link aqui debaixo, e também compartilhe com outras pessoas.
Se você quiser compartilhar sua história com outras pessoas, acesse o link aqui embaixo e aguarde aparecer aqui no site. Se você não, você está identificado.

https://forms.gle/3FNzAvUa8RqCh8uD9Envie aqui: Prisioneira do preconceito